Núcleo de Pesquisa Científica e Tecnológica em Meio Ambiente, Silvicultura e Ecologia

Pesquisadores descobrem novas espécies de plantas no sul do Espírito Santo

A Floresta Atlântica, apesar de muito devastada e ainda continuar sendo impactada para abertura de novas áreas para agropecuária, expansão de núcleos urbanos e extração de rochas ornamentais, consiste de um bioma extremamente importante devido aos últimos dois anos ter somado centenas de espécies novas de plantas descritas de nordeste ao sul do Brasil. Muitas dessas novidades são frutos de diversos trabalhos de levantamentos florísticos em fragmentos florestais pouco conhecidos, incluindo os de menor tamanho e que estão localizados em propriedades particulares.

O sul do Espírito Santo tem se destacado em pesquisas científicas na área de Ecologia e Conservação da Natureza, apoiadas por alguns núcleos de pesquisa e departamentos da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), como o Núcleo de Pesquisa Científica e Tecnológica em Meio Ambiente, Silvicultura e Ecologia (NUPEMASE). Alunos e professores desse núcleo têm realizado seus trabalhos acadêmicos em vegetações inseridas em locais determinados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como prioritários para conservação biológica como a Floresta Nacional (FLONA) de Pacotuba, Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Cafundó, Parque Nacional (PARNA) Caparaó, Pedra dos Pontões e Serra do Valentim (Figura 1).

Figura 1. Serra do Caparaó (a); Serra do Valentim (b); Pedra dos pontões (c) e Flona de Pacotuba (d)

A Serra do Valentim, alvo de estudos florísticos continuados desde o ano de 2011, é um complexo de montanhas localizado entre os municípios de Iúna, Muniz Freire e Ibatiba, Espírito Santo. Essa serra engloba praticamente diversos limites de propriedades particulares e as vegetações de Floresta Atlântica tem sido fortemente pressionadas pelo avanço dos cultivos agrícolas, queimadas e especulação para extração de minérios. Lá também está localizado o Sítio Murucutu, onde os proprietários construíram trilhas ecológicas em meio à vegetação, recebendo alunos de escolas de ensino fundamental e médio, além de encorajarem a realização de pesquisas científicas. Esses estudos têm sido propostos e executados pela equipe do doutorando e pesquisador do NUPEMASE, João Paulo Fernandes Zorzanelli, e abrangem algumas outras propriedades vizinhas.

Durante as coletas de materiais botânicos na Serra do Valentim dois espécimes chamaram atenção. Um deles, conta João Paulo, despertou grande interesse do pesquisador Renato Goldenberg, referência em estudos botânicos no gênero Miconia, plantas bem relacionadas às quaresmeiras, embora não possuam flores chamativas. A partir desse contato e expedição a campo acompanhada por seu aluno de mestrado Lucas Bacci, foi constatada que realmente se tratava de uma nova espécie, nomeada no início de 2015, Miconia valentinensis. É uma homenagem à Serra do Valentim, pois essa espécie é considerada endêmica da localidade. A seguir, o link da prévia do artigo publicado no periódico Phytotaxa: https://www.mapress.com/phytotaxa/content/2015/f/p00195p278f.pdf

Figura 2. Miconia valentinensis no ápice de sua floração.

Outro material da Serra do Valentim que intrigou o doutorando do NUPEMASE foi a espécie nova, recentemente publicada, chamada Freziera atlantica (Figura 3). Seu nome homenageia a primeira ocorrência do gênero Freziera para a Floresta Atlântica. Entretanto, a história dessa planta remonta a uma postagem no grupo detweb na rede social Facebook. Após verificar as fotografias, o costa-riquenho Daniel Aguilar, atualmente filiado à Universidade de Harvard, sugeriu o gênero Freziera. Este foi o marco inicial de toda uma pesquisa envolvendo o espécime que reuniu também pesquisadores da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O material, então, foi descrito e publicado na Systematic Botany, cujo artigo está disponível no link a seguir: https://www.bioone.org/doi/pdf/10.1600/036364415X690111

Figura 3. Freziera atlantica: indivíduo em área disturbada (a); amostra herborizada (b); frutos maduros e imaturos (c); e ambiente natural de ocorrência (d).

Para o doutorando e pesquisador do NUPEMASE, João Paulo Fernandes Zorzanelli, esses achados são de grande importância. “Essas novas espécies descritas aliadas ao conjunto de espécies ameaçadas de extinção, novos registros para o Espírito Santo e a qualidade e quantidade da diversidade florística encontradas ao longo da Serra do Valentim, demonstram que áreas pouco conhecidas do ponto de vista florístico podem resguardar incrível diversidade de espécies de plantas e os diversos estudos não devem negligenciar essas localidades, pois são igualmente interessantes às propostas de políticas públicas para conservação”, afirmou.

Foi relatado ainda por João Paulo que outras novas espécies da Serra do Valentim e outras localidades do sul do Espírito Santo estão em processo de descrição e, em breve, serão publicadas.

© 2013 Universidade Federal do Espírito Santo. Todos os direitos reservados.
Avenida Governador Lindemberg, 316 - Centro, Jerônimo Monteiro – ES | CEP 29550-000